Como afirmou Nietzsche, "tudo o que tem um preço não tem valor". Ora as palavras dos poetas são sempre uma reserva imaginária de valores. Em épocas de crise, são sinalizadoras das nossas desesperanças e esperanças, num mundo dominado pela economia e o quantitativo. As suas palavras, no seu modo diverso de interpretar as representações colectivas ou o sentido mais íntimo das nossas vidas, ajudam-nos, no plano dos valores, a situarmo-nos no mundo em que vivemos. E lembremos, a propósito, que ler um poema é também um modo de o reescrever na finita infinitude das nossas vidas.
INSCRIÇÃO
Eu vi a luz em um país perdido.A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...
Camilo Pessanha (1867-1926)
Clepsidra (1920)
Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.
Aventureiros já sem aventura,
Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.
Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.
Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido...
Alexandre O´Neill (1924-1986)
Poemas com Endereço (1962)
Poemas com Endereço (1962)
Sem comentários:
Enviar um comentário