terça-feira, 31 de maio de 2011

As Metamorfoses da Mulher na Pintura (video de P. Scott Johnson)

Botticelli - O Nascimento de Vénus (pormenor)

Cada poema,
no seu perfil
incerto
e caligráfico,
já sonha
outra forma.

"Lavoisier" - Carlos de Oliveira


O rosto é o espelho da alma, diz-se na simplicidade metafórica do senso comum. A pintura soube exprimi-lo como nenhuma outra arte, de diversos modos segundo os modelos regulados pelo tempo histórico e os seus códigos específicos.
Nesta montagem de P. Scott Johnson são rostos femininos juvenis, ora na sua epidérmica espontaneidade, ora na profundidade e mistério de cada figura. O rosto é o espelho da alma, bem sabemos, por vezes transparente, outras a turvar numa nebulosa o nosso olhar.
Há também rostos a esconder num hermetismo singular o corpo da alma. Outras vezes, a alma é uma aura à superfície dos lábios, dos olhos, da pele, das maçãs do rosto.
Rostos dispersos na nossa memória cultural, sinais tatuados de traços e manchas a simularem o arquétipo da beleza feminina (Vénus), ou a interrogarem-nos na sombra do nosso desconhecimento e das nossas dúvidas (as máscaras). Esfíngicas, torturadas ou simplesmente expostas à avidez do nosso olhar.
Rostos em metamorfoses sucessivas, ingénuas, enigmáticas, sedutoras ou íntimas, com os seus artefactos (o ondulado dos longos cabelos, os lenços, os brincos ou os chapéus), sussurram-nos em ondas de prazer a fugacidade das figuras a diluirem-se numa alteridade imprevisível, como se cada rosto já sonhasse outra forma.
Neste jogo de mutações, os rostos femininos são na sua diversidade um modo de nos perdermos oniricamente nos labirintos da História da Arte, do gótico à modernidade. Ou então, de nos reencontrarmos com a essência plástica da beleza feminina, numa tensão entre a diversidade e a unidade, para lá das suas variações de pose, tempo e lugar.
Corpo habitável e transitório do nosso desejo, virtualizado pelas sucessivas narrações da mão do tempo.



Agradeço ao meu amigo José Movilha o facto de me ter dado a conhecer este video.

Sem comentários:

Enviar um comentário